Taciano Soares é um jovem artista da cena, pesquisador e produtor cultural de Manaus, no Amazonas. Dirige o Ateliê 23 – Cia. de artes cênicas, audiovisual e produtora cultural, no qual também exerce as funções de ator, dramaturgo, produtor e gestor. É doutor em Artes Cênicas e mestre em Cultura e Sociedade, ambos pela Universidade Federal da Bahia. Foi professor da Universidade Estadual do Amazonas, nas áreas de teatro e gestão cultural, Secretário Executivo de Cultura do Estado do Amazonas e Diretor de Teatros e Centros Culturais do Estado. Antes disso, fez parte da Cia. Cacos de Teatro e foi um dos idealizadores do Festival Breves Cenas de Manaus.
A empreitada dramatúrgica de Taciano Soares é recente e foi despertada pela sua necessidade de “abrir a boca sobre atravessamentos que lhe preenchiam”, como disse o próprio artista. Suas investigações na área se iniciaram de modo muito intuitivo e, pouco depois, começaram a ganhar mais elaboração. Desse processo, duas ideias tornaram-se importantes para Taciano. Uma delas, a de “bionarrativa cênica”, trata-se, segundo ele, de uma cena teatral construída a partir de histórias reais, de vidas precárias, aquelas ameaçadas pelo sistema social vigente. Essa cena se conecta com o espectador não a partir da beleza, mas do choque. Outra ideia é a de “dramaturgismo”, segundo a qual o processo de escrita do texto acontece junto à construção da cena. Ou seja, o texto é desenvolvido também a partir da criação dos atores e atrizes, da direção, dos demais profissionais da cena. Uma dramaturgia que se cria também na sala de ensaio, a partir dos jogos e recursos cênicos, e não só no gabinete, quando o autor se senta sozinho para escrever, antes ou depois dos ensaios.
Taciano Soares se inspira na dramaturgia que não se limita à palavra, mas que se faz também, por exemplo, “numa respiração que se acelera para dar conta de formas outras de escrita”. O autor se apoia na dramaturgia que é pensada e feita por vozes ainda não ouvidas, “que não estão postas nas prateleiras”. Interesse por novas possibilidades e rompimento de padrões são atitudes presentes no trabalho de Taciano.
Vacas bravas, uma de suas peças, foi montada pela Ateliê 23 em 2019 e, em 2021, selecionada no Concurso de Dramaturgia da Federação de Teatro do Amazonas. Seu título faz referência ao significado de “vaca brava” em Portugal: “Dá-se o nome de vaca brava à fêmea do touro, enquanto a fêmea do boi chama-se vaca mansa. É a vaca mansa, então, o modelo de vaca leiteira que o homem transformou num mero produto de consumo, como se esse fosse o único motivo pelo qual as vacas existem. A partir disso, o eu-lírico da cena deseja ser vaca brava, alguém que não aceita seu destino de vaca leiteira, que não deseja ser simplesmente uma vaca mansa”, explica Taciano. O texto, fragmentado e onírico, de linguagem poética e provocativa, apresenta três personagens-territórios (mãe, filho, ele), cada um deles servindo como uma metáfora para a trama. “Vacas bravas é o desejo sublime por algo bom, é sobre não aceitar o que é imposto, é tentar e falhar, mas continuar tentando”.
Gorete Lima