marcio abreu

Rio de Janeiro - RJ

Fragmento Teatral

1. vó

fala sonora

baixa era baixa aqui um banhado o mar é fechado as casas em cima por cima um silêncio às vezes uns tiros os milico aqui perto não tinha ninguém era assim que chamava o sapateiro era baixa do sapateiro os garotos era assim eu era nova era baixa bonita um silêncio a casa da gente era bom o feijão tá no fogo de molho antes o dia inteiro de molho desde ontem à noite preto gostoso um pedaço de carne dá gosto tá tudo pela hora da morte cozinha mais rápido é assim que aprendi põe de molho amolece cozinha mais rápido eu hein garotos vai pro banho sua mãe vai chiar o feijão tá no fogo fica quieto garotos eu hein quero ver minha novela tá muito barulho vai buscar seu irmão lava bem esse pé vai fazer o dever larga dele garotos deixa ele todo mundo pro banho enche o saco garotos ele é pequeno demais eu hein vou chamar o lobizome hein aqui tinha lobizome tô dizendo é verdade pergunta pros vizinhos mais velhos vou contar essa história já contei essa história a vó já contou a vó era nova eu era bonita não tinha ninguém os milico treinando era tudo um banhado os milico era dono seu avô que escolheu construímos a casinha os vizinho chegaram aqui na baixa era assim que chamava era baixa do sapateiro agora mudou com tempo mudou vocês não se lembram não eram nascido aqui era bem bom era calmo bem bom fica quieto os garotos vou chamar o lobizome de noite era escuro sem luz ele vinha e assustava agora sumiu não tem mais tá mudado tá tudo mudado conto história e pro banho depois vai pro banho lava bem esse pé eu hein eu cheguei aqui nova eu era bonita seu
avô que escolheu trabalhava na roça criava galinha eu hein uma fartura danada não tinha problema os vizinho ajudava os amigo da gente eu era bem nova os filho nasceram seus tio suas tia os irmãos do teu pai eles foram indo embora o velho morreu eu fiquei é sozinha seu pai me cuidou meu filho querido eu hein garotos vai pro banho tua mãe vai chiar o feijão tá no fogo um pedaço de carne lava bem esse pé vou chamar o lobizome era tudo bonito não tinha problema os amigo da gente as criança brincando lá fora hoje é diferente tá tudo mudado a bagunça danada é cheio de gente os bandido por tudo os bandido lá fora eu hein a polícia bandida danada as botina desgraçada chutando na gente eu hein os garoto cuidado vocês toma tenência o pai de vocês dá um duro danado vocês toma tenência o feijão tá no fogo eu hein vou perder minha novela fica quieto garotos eu tô surda do ouvido quero ver minha novela eu era bem nova tua mãe vai chegar o feijão tá no fogo o teu pai é que gosta o meu filho bonito o meu filho querido ele cuida de mim respeita o teu pai que ele chega cansado fica quieto garotos quero ver minha novela uma poca vergonha esses beijo na boca uma safadeza danada eu hein esses artista uma vergonha meu deus fica quieto garotos eu tô surda do ouvido quero ver minha novela eles vão terminar juntos essa mulher é ruim demais meu deus uma roubalheira danada uma poca vergonha agora é tudo assim antes era bonito esses artista tá tudo perdido ela é feia demais quero ver minha novela eu hein esses home sem camisa uma poca vergonha deixa eu ver minha novela essas modas de hoje ih seu pai tá chegando meu filho querido o feijão tá no fogo tá cansado meu filho o trabalho todinho o orgulho da casa ele cuida de mim eu tô vendo a novela tá com fome meu filho o feijão tá no fogo um pedaço de carne os garotos uma bagunça danada tua mulher tá chegando ela tá atrasada todo dia é assim um engarrafamento danado ela demora a chegar a gente fica esperando uma fome danada quer fazer uma boquinha todo mundo pra mesa faz a reza pro senhor só depois é que come tá rindo de quê faz reza os garotos eu hein tá rindo de quê olha deus que castiga obrigado senhor pela comida na mesa obrigado meu deus pela família reunida os garotos tá rindo palhaçada é essa eu hein olha deus que castiga todo mundo limpando os pratos o teu pai tá cansado um duro danado sou eu que limpo tudo e depois minha novela vocês todos pra cama eu cuido de tudo um silêncio lá fora é hora de dormir os garotos amanhã tudo de novo lá fora um silêncio um ESTOURO jesus misericordioso antes não era assim aqui era bonito um silêncio parado os vizinhos os amigos gente boa do lado agora tá diferente meu deus o que é isso fecha tudo as janelas é polícia chegando um ESTOURO meu deus acode a gente antes não era assim antes era bonito era tudo um banhado os garotos pra cama se esconde quietinho o meu filho o meu deus acode a gente uma gritaria lá fora é os vizinhos da gente todo mundo correndo jesus misericordioso minha nossa senhora a gente tá aqui dentro graças a deus e todo mundo batendo na porta a gente tá aqui dentro é os vizinhos da gente batendo na porta uma gritaria danada o meu deus me acode nossa senhora credo em cruz é o diabo do mundo tá tudo mudado é o inferno meu deus acode a gente o meu filho abre a porta um ESTOURO um barulho danado todo mundo gritando a casa invadida a televisão ligada vou perder minha novela os garotos pra cama se esconde aí embaixo socorro meu deus um ESTOURO a casa invadida os amigos da gente os vizinhos todo mundo escondido o diabo do mundo o barulho lá fora todo mundo chorando faz silêncio os garotos a vó tá aqui meu jesus misericordioso meu filho protege protege a família meu filho querido todo mundo encolhido um aperto danado um ESTOURO um zunido no ouvido uma cegueira um escuro um aperto no peito um silêncio profundo creioemdeuspaitodopoderoso advogadanossasalve saravá ohdegredadosfilhosdeeva esperançanossasalve santosantosantosenhordeusdouniverso esperançanossasalve omeupaioxalá um ESTOURO um zunido no ouvido o medo na alma o meu filho querido um silêncio profundo um vermelho um quente um molhado o meu filho molhado o meu deus olha a gente o meu filho o menino meu deus meu menino molhado vermelho molhado eu olho pra ele meu filho assustado orgulho da casa ele cuida da gente não vai embora meu filho meu deus acode meu filho não deixa a gente menino o que vai ser de mim um aperto no peito uma falta de ar meu jesus misericordioso não me deixa sozinha me leva daqui me leva junto meu filho o que vai ser de mim o meu filho nos braços um vermelho um quente um molhado eu tô velha meu deus quem é que vai cuidar de mim quem é que vai cuidar de mim quem é que vai cuidar da mãe quem é que vai cuidar de mim um pedaço de carne a maré tá subindo.

(Fragmento de
Maré)

Marcio Abreu é artista, dramaturgo, encenador, ator e curador. Fundou a Companhia Brasileira de Teatro.

ouça a entrevista:

Apresentação Critica

Marcio Abreu é ator, diretor e dramaturgo. É fundador da Companhia Brasileira de Teatro, que possui mais de 20 anos de trajetória, com sede na cidade de Curitiba. Marcio é formado pela Escola Internacional de Teatro da América Latina e Caribe e pela Escola Internacional de Antropologia Teatral (ISTA).

Marcio trabalha não somente na Companhia Brasileira, mas também em parceria e intercâmbio com diversos artistas e grupos no Brasil e no exterior. Já dirigiu espetáculos teatrais e de dança, performances, e composições cênico-musicais. Sua dramaturgia está intrinsecamente vinculada ao seu trabalho como diretor.

Também possui vasta atuação no campo da pedagogia teatral, ministrando oficinas, cursos, seminários e palestras, principalmente no campo da dramaturgia e dos processos de criação. Em 2021 ministrou o curso “Dramaturgias do Hoje e do Amanhã”, no qual analisou as dramaturgias encenadas pela Companhia Brasileira, de sua autoria e assinadas por outros escritores.

Pela Companhia Brasileira assinou a autoria dos seguintes textos: Volta ao dia (2002); Polifonias (2006); O que eu gostaria de dizer (2008); Vida (2010); Nus, ferozes e antropófagos (2014); PROJETO bRASIL (2015); PRETO (2017); Sem palavras (2021). É importante ressaltar que a maioria deles foi criado em colaboração com outros artistas, nos quais destacamos Nadja Naira, Grace Passô, Giovana Soar, dentre outros. Fora da companhia, assinou as dramaturgias Nós (2016) e Outros (2018), trabalhos construídos para e com o Grupo Galpão; Maré (2015), a convite do Grupo Espanca!; Nômades (2014), para as atrizes Mariana Lima, Andréa Beltrão e Malu Galli; entre outras.

A forma de produção dos textos de Marcio adere à noção de coletividade advinda do fazer teatral. O dramaturgo, em grande parte dos seus textos, carrega uma energia catalisadora da criação. É através do diálogo com outros artistas que a escrita se funda. Não é à toa que a definição de roteiro é comum para indicar a forma de organização das ações criadas por Marcio no espaço da coletividade. Apesar de manter com Nadja Naira e Giovana Soar uma parceria longínqua, suas criações travam diálogos com artistas diversos, do país e do mundo.

Marcio nos explica na apresentação da publicação de Maré e PROJETO bRASIL, publicado pela editora Cobogó: “escrever pra mim, desde sempre, foi uma atividade estimulada pelo teatro. Minhas primeiras letras foram objeto de oralidade. Minha entrada no teatro, mesmo como ator, incluiu sempre a criação de palavra escrita e seu caminho de encarnação, escuta e materialidade. O entendimento da palavra como ação – na medida em que dispara movimentos, desdobra-se, reverbera e deixa vestígios – fundamenta, de certa maneira, a dramaturgia que faço.”

Por outro lado, pensar a dramaturgia escrita por Marcio Abreu é articular principalmente a construção de uma presença. A partir da elaboração ou não de universos ficcionais, a noção de real produzida pelos textos nos joga diretamente para o estabelecimento de um aqui e agora. A ideia de performance, de retirada da noção catártica de ficção, acontece mesmo quando nos deparamos com uma narrativa construída, com um personagem não real. A escrita de Marcio Abreu, mesmo quando recorre a universos fora da construção real, nos convida a olhar para o instante presente da fruição. O eu leitor/espectador nunca consegue fugir, escapar do embate com obra: “em ambas as peças [Maré e PROJETO bRASIL], há uma dimensão de diálogo com o real, sem a ingenuidade ou pretensão de reproduzi-lo. Há o desejo de reinvenção do mundo, ou de mundos, através da língua ou das línguas ou, ainda, do que não cabe nelas. Há, portanto, a palavra como potência, como abertura de sentidos, mas também como insuficiência, como tentativa”, nos conta Marcio.

A pesquisadora Luciana Romagnolli, na sua dissertação de mestrado Convívio e presença como dramaturgia: a dimensão da materialidade e do encontro nas criações da Companhia Brasileira de Teatro, ao escrever sobre presença e convívio nos espetáculos da Companhia Brasileira, aborda como o evento teatral e um pensamento sobre o espectador são aspectos importante para os espetáculos do grupo. Ela indica uma dramaturgia do acontecimento, no qual o público se coloca sempre como parte inclusiva da obra. Não é à toa que em diversos textos encontramos um convite à participação do espectador, sendo com interações físicas ou mesmo com um empréstimo da escuta, um apelo no compartilhar das palavras.

Por fim, gostaríamos de reivindicar a característica extremamente atual das peças de Marcio. Para além de tematizar os assuntos que circundam o presente da sociedade, dos pensamentos sobre o ser humano e o mundo, a escrita de Marcio Abreu apresenta a contradição que estes mesmos temas, como contemporâneos que são, despertam: discussões sobre raça e gênero, as ideias sobre um Brasil, as questões sociais que transbordam do dia a dia da nossa realidade. Marcio não desvia dessas matérias tão urgentes do nosso tempo, porém, ao mesmo tempo, as discute de forma a ampliar o olhar sobre sua própria condição, o contrassenso, a ambiguidade que os eventos nos colocam. Neste sentido, o uso da palavra se coloca como um ato de fala, com a dimensão pública da oralidade. Não se trata de retratar ou representar um tema, uma questão, mas, antes disso, de problematizá-la e de alçar à sua dimensão política.

Ligia Souza

Marcio Abreu é artista, dramaturgo, encenador, ator e curador. Fundou a Companhia Brasileira de Teatro.

Marcio Abreu é ator, diretor e dramaturgo. É fundador da Companhia Brasileira de Teatro, que possui mais de 20 anos de trajetória, com sede na cidade de Curitiba. Marcio é formado pela Escola Internacional de Teatro da América Latina e Caribe e pela Escola Internacional de Antropologia Teatral (ISTA).

Marcio trabalha não somente na Companhia Brasileira, mas também em parceria e intercâmbio com diversos artistas e grupos no Brasil e no exterior. Já dirigiu espetáculos teatrais e de dança, performances, e composições cênico-musicais. Sua dramaturgia está intrinsecamente vinculada ao seu trabalho como diretor.

Também possui vasta atuação no campo da pedagogia teatral, ministrando oficinas, cursos, seminários e palestras, principalmente no campo da dramaturgia e dos processos de criação. Em 2021 ministrou o curso “Dramaturgias do Hoje e do Amanhã”, no qual analisou as dramaturgias encenadas pela Companhia Brasileira, de sua autoria e assinadas por outros escritores.

Pela Companhia Brasileira assinou a autoria dos seguintes textos: Volta ao dia (2002); Polifonias (2006); O que eu gostaria de dizer (2008); Vida (2010); Nus, ferozes e antropófagos (2014); PROJETO bRASIL (2015); PRETO (2017); Sem palavras (2021). É importante ressaltar que a maioria deles foi criado em colaboração com outros artistas, nos quais destacamos Nadja Naira, Grace Passô, Giovana Soar, dentre outros. Fora da companhia, assinou as dramaturgias Nós (2016) e Outros (2018), trabalhos construídos para e com o Grupo Galpão; Maré (2015), a convite do Grupo Espanca!; Nômades (2014), para as atrizes Mariana Lima, Andréa Beltrão e Malu Galli; entre outras.

A forma de produção dos textos de Marcio adere à noção de coletividade advinda do fazer teatral. O dramaturgo, em grande parte dos seus textos, carrega uma energia catalisadora da criação. É através do diálogo com outros artistas que a escrita se funda. Não é à toa que a definição de roteiro é comum para indicar a forma de organização das ações criadas por Marcio no espaço da coletividade. Apesar de manter com Nadja Naira e Giovana Soar uma parceria longínqua, suas criações travam diálogos com artistas diversos, do país e do mundo.

Marcio nos explica na apresentação da publicação de Maré e PROJETO bRASIL, publicado pela editora Cobogó: “escrever pra mim, desde sempre, foi uma atividade estimulada pelo teatro. Minhas primeiras letras foram objeto de oralidade. Minha entrada no teatro, mesmo como ator, incluiu sempre a criação de palavra escrita e seu caminho de encarnação, escuta e materialidade. O entendimento da palavra como ação – na medida em que dispara movimentos, desdobra-se, reverbera e deixa vestígios – fundamenta, de certa maneira, a dramaturgia que faço.”

Por outro lado, pensar a dramaturgia escrita por Marcio Abreu é articular principalmente a construção de uma presença. A partir da elaboração ou não de universos ficcionais, a noção de real produzida pelos textos nos joga diretamente para o estabelecimento de um aqui e agora. A ideia de performance, de retirada da noção catártica de ficção, acontece mesmo quando nos deparamos com uma narrativa construída, com um personagem não real. A escrita de Marcio Abreu, mesmo quando recorre a universos fora da construção real, nos convida a olhar para o instante presente da fruição. O eu leitor/espectador nunca consegue fugir, escapar do embate com obra: “em ambas as peças [Maré e PROJETO bRASIL], há uma dimensão de diálogo com o real, sem a ingenuidade ou pretensão de reproduzi-lo. Há o desejo de reinvenção do mundo, ou de mundos, através da língua ou das línguas ou, ainda, do que não cabe nelas. Há, portanto, a palavra como potência, como abertura de sentidos, mas também como insuficiência, como tentativa”, nos conta Marcio.

A pesquisadora Luciana Romagnolli, na sua dissertação de mestrado Convívio e presença como dramaturgia: a dimensão da materialidade e do encontro nas criações da Companhia Brasileira de Teatro, ao escrever sobre presença e convívio nos espetáculos da Companhia Brasileira, aborda como o evento teatral e um pensamento sobre o espectador são aspectos importante para os espetáculos do grupo. Ela indica uma dramaturgia do acontecimento, no qual o público se coloca sempre como parte inclusiva da obra. Não é à toa que em diversos textos encontramos um convite à participação do espectador, sendo com interações físicas ou mesmo com um empréstimo da escuta, um apelo no compartilhar das palavras.

Por fim, gostaríamos de reivindicar a característica extremamente atual das peças de Marcio. Para além de tematizar os assuntos que circundam o presente da sociedade, dos pensamentos sobre o ser humano e o mundo, a escrita de Marcio Abreu apresenta a contradição que estes mesmos temas, como contemporâneos que são, despertam: discussões sobre raça e gênero, as ideias sobre um Brasil, as questões sociais que transbordam do dia a dia da nossa realidade. Marcio não desvia dessas matérias tão urgentes do nosso tempo, porém, ao mesmo tempo, as discute de forma a ampliar o olhar sobre sua própria condição, o contrassenso, a ambiguidade que os eventos nos colocam. Neste sentido, o uso da palavra se coloca como um ato de fala, com a dimensão pública da oralidade. Não se trata de retratar ou representar um tema, uma questão, mas, antes disso, de problematizá-la e de alçar à sua dimensão política.

Ligia Souza

1. vó

fala sonora

baixa era baixa aqui um banhado o mar é fechado as casas em cima por cima um silêncio às vezes uns tiros os milico aqui perto não tinha ninguém era assim que chamava o sapateiro era baixa do sapateiro os garotos era assim eu era nova era baixa bonita um silêncio a casa da gente era bom o feijão tá no fogo de molho antes o dia inteiro de molho desde ontem à noite preto gostoso um pedaço de carne dá gosto tá tudo pela hora da morte cozinha mais rápido é assim que aprendi põe de molho amolece cozinha mais rápido eu hein garotos vai pro banho sua mãe vai chiar o feijão tá no fogo fica quieto garotos eu hein quero ver minha novela tá muito barulho vai buscar seu irmão lava bem esse pé vai fazer o dever larga dele garotos deixa ele todo mundo pro banho enche o saco garotos ele é pequeno demais eu hein vou chamar o lobizome hein aqui tinha lobizome tô dizendo é verdade pergunta pros vizinhos mais velhos vou contar essa história já contei essa história a vó já contou a vó era nova eu era bonita não tinha ninguém os milico treinando era tudo um banhado os milico era dono seu avô que escolheu construímos a casinha os vizinho chegaram aqui na baixa era assim que chamava era baixa do sapateiro agora mudou com tempo mudou vocês não se lembram não eram nascido aqui era bem bom era calmo bem bom fica quieto os garotos vou chamar o lobizome de noite era escuro sem luz ele vinha e assustava agora sumiu não tem mais tá mudado tá tudo mudado conto história e pro banho depois vai pro banho lava bem esse pé eu hein eu cheguei aqui nova eu era bonita seu
avô que escolheu trabalhava na roça criava galinha eu hein uma fartura danada não tinha problema os vizinho ajudava os amigo da gente eu era bem nova os filho nasceram seus tio suas tia os irmãos do teu pai eles foram indo embora o velho morreu eu fiquei é sozinha seu pai me cuidou meu filho querido eu hein garotos vai pro banho tua mãe vai chiar o feijão tá no fogo um pedaço de carne lava bem esse pé vou chamar o lobizome era tudo bonito não tinha problema os amigo da gente as criança brincando lá fora hoje é diferente tá tudo mudado a bagunça danada é cheio de gente os bandido por tudo os bandido lá fora eu hein a polícia bandida danada as botina desgraçada chutando na gente eu hein os garoto cuidado vocês toma tenência o pai de vocês dá um duro danado vocês toma tenência o feijão tá no fogo eu hein vou perder minha novela fica quieto garotos eu tô surda do ouvido quero ver minha novela eu era bem nova tua mãe vai chegar o feijão tá no fogo o teu pai é que gosta o meu filho bonito o meu filho querido ele cuida de mim respeita o teu pai que ele chega cansado fica quieto garotos quero ver minha novela uma poca vergonha esses beijo na boca uma safadeza danada eu hein esses artista uma vergonha meu deus fica quieto garotos eu tô surda do ouvido quero ver minha novela eles vão terminar juntos essa mulher é ruim demais meu deus uma roubalheira danada uma poca vergonha agora é tudo assim antes era bonito esses artista tá tudo perdido ela é feia demais quero ver minha novela eu hein esses home sem camisa uma poca vergonha deixa eu ver minha novela essas modas de hoje ih seu pai tá chegando meu filho querido o feijão tá no fogo tá cansado meu filho o trabalho todinho o orgulho da casa ele cuida de mim eu tô vendo a novela tá com fome meu filho o feijão tá no fogo um pedaço de carne os garotos uma bagunça danada tua mulher tá chegando ela tá atrasada todo dia é assim um engarrafamento danado ela demora a chegar a gente fica esperando uma fome danada quer fazer uma boquinha todo mundo pra mesa faz a reza pro senhor só depois é que come tá rindo de quê faz reza os garotos eu hein tá rindo de quê olha deus que castiga obrigado senhor pela comida na mesa obrigado meu deus pela família reunida os garotos tá rindo palhaçada é essa eu hein olha deus que castiga todo mundo limpando os pratos o teu pai tá cansado um duro danado sou eu que limpo tudo e depois minha novela vocês todos pra cama eu cuido de tudo um silêncio lá fora é hora de dormir os garotos amanhã tudo de novo lá fora um silêncio um ESTOURO jesus misericordioso antes não era assim aqui era bonito um silêncio parado os vizinhos os amigos gente boa do lado agora tá diferente meu deus o que é isso fecha tudo as janelas é polícia chegando um ESTOURO meu deus acode a gente antes não era assim antes era bonito era tudo um banhado os garotos pra cama se esconde quietinho o meu filho o meu deus acode a gente uma gritaria lá fora é os vizinhos da gente todo mundo correndo jesus misericordioso minha nossa senhora a gente tá aqui dentro graças a deus e todo mundo batendo na porta a gente tá aqui dentro é os vizinhos da gente batendo na porta uma gritaria danada o meu deus me acode nossa senhora credo em cruz é o diabo do mundo tá tudo mudado é o inferno meu deus acode a gente o meu filho abre a porta um ESTOURO um barulho danado todo mundo gritando a casa invadida a televisão ligada vou perder minha novela os garotos pra cama se esconde aí embaixo socorro meu deus um ESTOURO a casa invadida os amigos da gente os vizinhos todo mundo escondido o diabo do mundo o barulho lá fora todo mundo chorando faz silêncio os garotos a vó tá aqui meu jesus misericordioso meu filho protege protege a família meu filho querido todo mundo encolhido um aperto danado um ESTOURO um zunido no ouvido uma cegueira um escuro um aperto no peito um silêncio profundo creioemdeuspaitodopoderoso advogadanossasalve saravá ohdegredadosfilhosdeeva esperançanossasalve santosantosantosenhordeusdouniverso esperançanossasalve omeupaioxalá um ESTOURO um zunido no ouvido o medo na alma o meu filho querido um silêncio profundo um vermelho um quente um molhado o meu filho molhado o meu deus olha a gente o meu filho o menino meu deus meu menino molhado vermelho molhado eu olho pra ele meu filho assustado orgulho da casa ele cuida da gente não vai embora meu filho meu deus acode meu filho não deixa a gente menino o que vai ser de mim um aperto no peito uma falta de ar meu jesus misericordioso não me deixa sozinha me leva daqui me leva junto meu filho o que vai ser de mim o meu filho nos braços um vermelho um quente um molhado eu tô velha meu deus quem é que vai cuidar de mim quem é que vai cuidar de mim quem é que vai cuidar da mãe quem é que vai cuidar de mim um pedaço de carne a maré tá subindo.

(Fragmento de
Maré)