Caio Muniz é um jovem ator, performer, dramaturgo e professor de Manaus. Atuou nos espetáculos PAI (do Ateliê 23), In Process Curumins (da Panorando Produções Artísticas) e Quantas histórias habitam suas memórias (da Espatódea Trupe). Integrou o Grupo Jurubebas de Teatro e realizou os espetáculos: Menino Tk e Quarto Azul. É autor, junto com Felipe Maya Jatobá, do texto E nós que amávamos tanto a revolução e, junto com Emilly Cardeira, de Estações – Entre o amor e despedidas. Além disso, é fundador do Lobo Cênico Coletivo, no qual realiza suas pesquisas e processos artísticos. Como acadêmico, licenciando em Teatro pela Universidade do Estado do Amazonas, pesquisa tanto a formação e mediação teatral para espectadores iniciantes quanto os processos criativos de escritas dramatúrgicas contemporâneas.
Para Caio Muniz, a dramaturgia é a expressão do artista, escrita ou não no papel, transformada em cena. Nela, residem dimensões políticas, sociais e estéticas. Cada elemento da cena tem sua expressão. Juntas, coexistindo e cooperando, essas expressões criam o evento cênico. Tradicionalmente a palavra escrita e falada é mais reconhecida como dramaturgia, mas quando nos sensibilizamos para as outras vibrações que a cena transmite, temos uma gama quase infinita de dramaturgias que atravessa o espectador, testemunha do evento espetacular.
Seu maior e mais duradouro processo formativo vem acontecendo na Universidade do Estado do Amazonas, mas, antes disso, foi aluno do Curso Livre de Teatro do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro e participou de oficinas e laboratórios com importantes artistas que lhe inspiraram muito – um deles foi Francis Madson, diretor teatral de Rondônia, que vive no Amazonas, e atual presidente da Federação de Teatro do Amazonas; outro foi o dramaturgo cearense Marcos Miramar. Suas primeiras provocações para a escrita da cena vieram de sua participação nessas oficinas. Com o escritor Sidney Rocha, ele teve sua primeira imersão no campo da literatura, sendo provocado não só a escrever, mas também a conhecer diferentes formatos de escrita.
Escreveu e atuou na montagem cênica Queimar a casa. A peça narra a história de um jovem rapaz que tenta encontrar um lugar para dormir temporariamente, quando em um ato súbito queima a própria casa. Ao tentar encontrar conforto na companhia do pai, do irmão e da ex-namorada, depara-se com relações complexas que não lhe garantem um lugar para reinventar a sua existência. Como um ser se ergue das cinzas? Como agarrar-se à última fagulha de esperança? Por que queimamos a nossa própria casa?
Outra dramaturgia de sua autoria é O Feixe, que lança questionamentos sobre o Brasil contemporâneo. O texto gira em torno das seguintes perguntas: O que ocorre com uma nação que entrega sua liberdade em troca de uma sensação de segurança? O que acontece quando acatamos nosso ódio e desdenhamos das nossas diferenças? Ocorre o feixe! E cada vez mais o feixe nos conquista e domina. Caio tem a visceral necessidade de narrar fatos atuais de um Brasil desigual, povoado de seres que levam os espectadores a indagar sobre si mesmos.
A mitologia grega, a mitologia iorubá, as lendas amazônicas, a periferia manauara e o cotidiano amazonense são temas recorrentes em seus processos criativos. Caio elege um tema e, a partir dele, levanta sua dramaturgia, como quem constrói uma parede: cena por cena, ato por ato; depois revisa palavra por palavra: “é como dar o acabamento com cimento nos tijolos. Depois de um tempo eu revisito o texto, geralmente é nesse momento que eu quebro essa parede, mudo os tijolos de lugar, vasculho outras possibilidades”. Imagens, músicas e filmes chegam como provocações para a criação. Por fim, depois de levado à cena, o texto se transforma, já que a palavra ao ganhar corpo, ganha nova responsabilidade, é hora então de retornar ao papel e modificar o que for necessário.
Gorete Lima