Viviane Juguero é dramaturga, atriz, encenadora, professora, produtora e pesquisadora teatral, com carreira profissional iniciada em 1994. Desde então, concretizou um número expressivo de espetáculos, publicações e estudos teóricos, publicados ou encenados no Brasil e no exterior. Trabalha atualmente como pesquisadora, em nível de pós-doutorado, na Faculdade de Artes e Educação da Universidade de Stavanger, na Noruega, desenvolvendo a pesquisa Teatralidades multiculturais e pluriperceptivas para primeiras infâncias diversas. Cursou seus estudos de graduação (Interpretação teatral), mestrado (Teatro para crianças) e doutorado (Dramaturgia) em Artes Cênicas, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em seu doutorado, realizou residência acadêmica nos Estados Unidos (UW-Madison) e desenvolveu o conceito de “dramaturgia radical”, que propõe a criação de obras comprometidas com a justiça social, entendendo na dramaturgia um papel social importante.
A autora enfoca questões relativas a violências, pressões, silenciamentos e empoderamentos das mulheres negras em obras como As teias de Anhara (2022) e Cavalo de santo (2016). As teias de Anhara é um o monólogo de linguagem híbrida, que foi primeiramente desenvolvido nos Estados Unidos, sob o título I Don’t Care (2019). Nele, a personagem solitária no palco interage com cenas apresentadas em projeções, amplificando a percepção das violências cotidianas sofridas pela protagonista em relação à estrutura social opressiva em que ela está inserida. A obra enfoca questões associadas à mestiçagem e à busca pela construção identitária da mulher negra, ao mesmo tempo em que desenha o empoderamento coletivo por meio de um feminismo negro.
O tema está presente também em Cavalo de santo, que, por meio de uma abordagem sincrética e antropofágica, revela a relação de um casal que vive em um claustrofóbico apartamento tropical. A peça foi publicada na antologia Dramaturgia negra, de 2018, pela Fundação Nacional das Artes (FUNARTE), e encenada na Alemanha, em 2016 e 2018. Essa obra tem base na concepção original do encenador Jessé Oliveira, assim como os trabalhos Ori Oresteia (2016) e Antígona BR (2008), que a dramaturga elaborou como recriações de clássicos da tragédia grega, desenvolvidos para encenações afrocentradas do grupo gaúcho Caixa Preta. Esse grupo marca um momento importante do teatro negro no Rio Grande do Sul, sendo uma das primeiras companhias a se afirmar na busca por um teatro de temática negra e feito majoritariamente por pessoas negras.
Segundo a dramaturga Viviane Juguero, seu trabalho busca criar obras dialógicas fundamentadas na ideia de “pensar no modo de pensar”, do educador Paulo Freire. Deste modo, no que concerne às suas criações para crianças, há anos se dedica a estudar as particularidades comunicativas da infância. Com base no que conceitua como “lógica lúdica infantil”, a autora desenvolve “dramaturgias lúdicas pluriperceptivas que objetivam encantar, divertir e empoderar grupos não privilegiados, por meio da promoção da diversidade e do respeito ao ponto de vista infantil”, afirma Viviane.
Dentre suas obras voltadas para a infância, cabe destacar os espetáculos teatrais Canto de Cravo e Rosa (2007), Jogos de inventar, cantar e dançar (2010), Quaquarela (2012), Peteca, pião e pique-pessoa (2018) e o desenho animado para bebês Jogos de inventar (2019).
Canto de Cravo e Rosa enfoca a temática da diversidade por meio de uma dramaturgia que tem base na estrutura narrativa de cantigas de rodas e apresenta diversas dessas canções na construção da ação. O trabalho resultou em diferentes montagens e estudos acadêmicos, além de dar origem aos filmes O jardim da Rua 13 e De volta ao jardim da Rua 13, atualmente em produção.
Jogos de inventar, cantar e dançar foi desenvolvido ao longo de quatro anos de investigação da artista, trabalhando diariamente em diferentes instituições de educação infantil, com crianças de zero a seis anos. O trabalho resultou em um espetáculo, um livro e um CD, e recebeu o Prêmio Açorianos de Música, em 2010, e o Prêmio Tibicuera de Teatro Infantil, em 2012. Além disso, a obra originou o desenho animado para bebês Jogos de inventar, exibido no Brasil e no exterior.
Quaquarela é uma dramaturgia inspirada na estrutura das parlendas e composta por meio do encadeamento lúdico de brincadeiras, quadrinhas, parlendas e adivinhas populares, presentes no folclore brasileiro. O trabalho recebeu o Prêmio Tibicuera 2013 de Melhor Dramaturgia (Viviane Juguero), Melhor Ator (Éder Rosa) e Melhor Trilha Sonora (Toneco da Costa). O trabalho também originou uma série audiovisual que está em produção. Todas as obras audiovisuais mencionadas têm produção da Bactéria Filmes e financiamento da ANCINE.
Peteca, pião e pique-pessoa é uma metadramaturgia que mostra como Peteca e Pião contam e refletem sobre a história de Pique-Pessoa, alguém que procura a felicidade no futuro, sem conseguir vivenciar plenamente o presente, que é simbolizado por meio de distintas brincadeiras tradicionais. Esta dramaturgia conta com a colaboração de Jorge Rein, no texto, e de Éder Rosa, na concepção, e está publicada na plataforma do Centro Latinoamericano de Creación e Investigación Teatral (CELCIT). Em 2021, Viviane Juguero recebeu o Prêmio Tibicuera pelas canções do espetáculo.
Para a autora Viviane Juguero, a musicalidade e a ludicidade são elementos essenciais na sua dramaturgia para a infância. Sua obra é marcada pelo jogo, pela escuta, pelos sons e movimentos próprios da linguagem do coletivo que dirige, o Bando de Brincantes.
A autora possui diversas obras publicadas e outras em via de publicação, além de um vasto estudo teórico sobre dramaturgia e teatro em geral, como no projeto Arte como Ciência, que promove reflexões sobre o papel social da arte. Nesse projeto, Viviane é idealizadora e roteirista dos web-documentários Arte como Ciência: Raízes, que celebram as carreiras artísticas de profissionais da maturidade com atuação de destaque no Rio Grande do Sul.
Viviane Juguero é membro do Conselho Consultivo de Especialistas Acadêmicos do Centro de Artes e Transformação Social (CAST) da Universidade de Auckland, dentre outras redes internacionais, contribuindo com ações artísticas e educacionais em distintos países, além do Brasil.
Camila Bauer