MERCEDES ESTUDANTE – A minha mãe percebeu que eu muitas vezes ficava calada, o olhar alheio, distante.
MERCEDES – Não quero transferir para você um problema que é meu.
DONA LUCIENE – E agora ela quer transferir para Mercedes um problema que é dela.
MERCEDES ESTUDANTE – Mas eu não queria preocupar a minha mãe com um problema que era meu. Ou nem era. Não sei. Nada havia de objetivo, entende? Objetivo?
DEPUTADO MÁRIO VALDES – Talvez.
MERCEDES – Talvez o quê?
DEPUTADO MÁRIO VALDES – Talvez seja meu também.
DONA LUCIENE – Eu perguntei: então, qual o seu real objetivo?
MERCEDES – Recuperar o passado.
DONA LUCIENE – Ela acredita que a essa altura isso ainda é possível.
MERCEDES ESTUDANTE – Tudo depende de um ponto de vista.
MERCEDES – Tudo depende de um ponto de vista.
DONA LUCIENE – Tudo depende de um ponto de vista.
MERCEDES ESTUDANTE – Mas qual? Se eu era um fragmento de mim mesma.
MERCEDES – Eu sou militante.
DONA LUCIENE – Disse que era militante.
MERCEDES ESTUDANTE – Eu sou militante.
DEPUTADO MÁRIO VALDES – Como assim? Você é militante? Em quê?
DONA LUCIENE – Como assim, militante?
MERCEDES ESTUDANTE – Na universidade, sabe? Movimentos estudantis, essas coisas?
MERCEDES – Partido Revolucionário do Brasil.
DONA LUCIENE – Disse que pegou em armas.
MERCEDES ESTUDANTE – Eu acabei me filiando a um partido revolucionário.
DEPUTADO MÁRIO VALDES – Pra fazer o quê?
DONA LUCIENE – Pra fazer o quê?
MERCEDES ESTUDANTE – Os caras querem fazer a revolução.
MERCEDES – Eu quero fazer a revolução.
DONA LUCIENE – Ela queria fazer a revolução.
(Fragmento de Mercedes)