Narda Telles atua nas artes cênicas desde 1980, tendo realizado cursos e oficinas de teatro com Darcy Figueiredo, Priscila Camargo, José Celso Martinez, Monah Delacy, Gercilga de Almeida, Álvaro de Sá, dentre outros artistas. Atuou como atriz nos grupos teatrais O Grito, Evolução, Pombal, Vitória Régia, Origem e Cooperativa Tempo. Foi presidente da Associação Amazônia Arte-Mythos desde sua fundação, em 2003, até seu encerramento, em 2013, onde desenvolveu projetos como o Tragecontemporâneo, no qual encenava tragédias gregas atravessadas por um estudo corporal inspirado em técnicas de dança moderna e contemporânea.
Nos anos 1980, no início da sua formação artística, Narda participou da montagem do espetáculo Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado, um clássico do teatro brasileiro para infância e juventude: esse foi seu primeiro contato com a dramaturgia. Nas décadas seguintes, a artista seguiu dedicando-se ao teatro para esse público, mas inquieta com a ausência do universo amazônico na literatura dramática. Narda escreve então espetáculos infantojuvenis que abordam, de maneira lúdica, o sujeito amazônico e suas histórias, lendas, mitos, permeados pelas problemáticas contemporâneas. Assim nasceu Yawê o pequeno peixe-boi, que reflete sobre a ameaça de extinção desta espécie e possíveis modos de impedi-la. Dona Chuva e Dona Selva contra o Senhor Moto Serra põe em foco a devastação da floresta amazônica. Na peça, seres encantados, como a noite, os rios e os animais, têm o dom de fazer se perder no interior da mata aqueles que agridem a floresta. Já em A estória da menina dos brincos de ouro, uma adaptação do conto popular A menina dos brincos de ouro, Rosa, uma menina, ganha brincos de ouro de sua mãe. Um dia, depois de banhar-se no rio, quando chega em casa, percebe que esqueceu o acessório. Ao voltar para buscá-lo, Rosa é capturada por um estranho que a obriga a cantar para que ele ganhe dinheiro com isso. Como Rosa escapará? Em Assembleia das árvores, duas nuvenzinhas, CO2 e H2O, apaixonadas pela beleza da mata, dos rios e dos animais, descobrem que o ser humano está destruindo a natureza. Então, começam uma jornada para combater o inimigo e salvar toda a vida da Terra. Em O conto da Cobra Norato, a dramaturga faz uma imersão na cultura indígena e traz para o palco Norato, um rapaz encantado que nasceu cobra, mas em noite de lua cheia se transformava em gente. Ia para as festas, dançava e namorava. Um dia soube que poderia quebrar o encanto e virar gente para sempre. Norato conseguiria o feito? O que isso acarretaria?
Para Narda Telles, o processo de escrita se relaciona com a observação e percepção do mundo, seguida da expressão da coisa sentida e observada. Nesse turbilhão de imagens e sentimentos surgem muitos pensamentos e reflexões. Seus espetáculos e contações de histórias, sempre populares, são resultados desse processo: fazer pensar e refletir com encantamento e ludicidade.
Gorete Lima