Max Reinert é integrante da Téspis Cia. de Teatro desde 1993, ano de sua fundação, transitando entre as áreas de dramaturgia, atuação e direção teatral, além de ministrar oficinas de escrita criativa. Grande parte da sua produção dramatúrgica se dá em processos junto a esta companhia, que possui sede em Itajaí, sendo bastante atuante no estado de Santa Catarina. Oriundo do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná, sua obra possui características próprias de uma escritura que questiona os limites de nossa humanidade, transitando entre falas corriqueiras e banais, mas que se densificam ao longo das cenas, perturbando o leitor por seus flertes entre realidade e ficção, trazendo personagens que aos poucos revelam seu caráter conturbado, quase que como uma metáfora do mundo, como “uma elaboração poética de estratégias de construção de mundos, sendo uma linguagem mais ligada à poesia do que estados mentais”, afirma o autor.
Como dramaturgo e encenador, aborda temas como a morte, o crime, a paixão, a loucura, os limites entre realidade e ficção, a violência e o desejo. Parte de situações aparentemente cotidianas para chegar a extremos que levam ao crime. Para Reinert, “o ato do crime funciona mais como uma metáfora do que como violência no mundo real... mais como um possível acesso às sombras de todas as pessoas... ou seja, não é tanto um estudo patológico, mas mais um convite para reconhecermos nossa própria escuridão nessa linguagem”, afirma o autor. De algum modo, lida com motores de repetição, deslocamento, fragmentação, irrupção do real, entre outros elementos que confluem para a destruição do sujeito e de uma estrutura narrativa mais linear. A fábula ainda está lá, mesmo que em ruínas. Há um uso de rubricas importantes em sua obra, desencadeando sentidos e sensações que reorganizam e permitem a ressignificação de algumas partes de suas obras.
Em Pequeno Inventário de Impropriedades, estreado em 2010, com direção de Denise da Luz, Max ganha uma maior visibilidade enquanto dramaturgo, trazendo um texto contundente e que questiona os limites entre a sanidade e a loucura. Em nossa sociedade doente, é difícil saber os limiares entre lucidez e perda do controle. Nesta obra, vemos um homem comum, com um cotidiano repetitivo e estruturado, que tem sua vida modificada por um acontecimento marcante. O autor questiona nossos próprios limites e o que nos caracteriza enquanto indivíduos. Parte de relatos, poemas e comentários de um blog que alimentava, e que depois viria a estruturar-se enquanto dramaturgia. A peça foi contemplada com o Prêmio Miriam Muniz de Teatro, da FUNARTE, seguindo então sua trajetória. Nesta obra poética, a violência revela novas camadas de um sujeito comum, questionando aquilo que nos constitui e que às vezes fica durante um tempo oculto, ainda que latente.
Em Meteoros, montada em 2012 pela Téspis, Max assina também a direção e a iluminação, além da dramaturgia. Nesta obra, vemos os conflitos de dois atores em cena: uma atriz, que interpreta uma atriz, deseja contar sobre a morte de sua personagem, sobre o que poderia ser sua última aparição em cena; e um homem que mostra seus desejos caracterizados por uma forte perturbação psicológica e as consequências disso. Max experimenta aqui outros elementos dramatúrgicos para falar de vida e morte, desejo de matar e desejo (e medo) de morrer. Em um jogo metateatral, os dois personagens mostram diferentes versões do que poderia ser uma mesma história, questionando o que é aceito ou não em nossa sociedade, lidando com temas fortes como violência, morte, desejo, mutilação e sexualidade, além do próprio jogo de linguagem que caracteriza a obra.
Em Índice22, o dramaturgo e encenador questiona nossa relação com o mundo virtual, falando sobre o quanto de nós está exposto nas redes, sobre nossa fragmentação e conectividade, sobre o que se caracteriza como presente e o que é a memória de um acontecimento. Para isso, constrói uma dramaturgia cênica que lida com outros elementos dramatúrgicos para compor a obra, que celebra os 30 anos de carreira de Denise da Luz, protagonista do espetáculo, expandindo o corpo e voz da atriz/personagem para outros elementos do espetáculo. Nesta obra, o dramaturgo assina também a direção, a cenografia e a iluminação, mostrando uma escritura cênica que dá conta de diferentes elementos e aspectos da composição dramatúrgica.
A produção de Reinert inclui também a criação de dramaturgias voltadas para crianças. É o caso de Marina e o pássaro, na qual Max questiona os estereótipos de gênero, colocando em tensão a relação da família de Marina, que vira Mário, e aquilo que se entende por coisas para menino e coisas para menina. O texto busca desconstruir estereótipos de gênero, fazendo as crianças refletirem sobre questões de identidade, aceitação da diversidade e celebração das diferenças, naturalizando o que ainda é alvo de preconceito.
Junto ao seu coletivo, montou vários de seus textos, seja como diretor ou ator. Desde que assumiu o papel de dramaturgo, a companhia vem investindo em apoiar sua escrita autoral, priorizando a encenação de suas obras e de dramaturgias feitas em processo, em detrimento de obras de outros autores previamente escritas. Desde 1998, ministra oficinas para crianças, adolescentes e adultos em diversas áreas teatrais, além de conduzir seminários de escrita dramatúrgica e coordenar eventos de teatro em Santa Catarina.
Assim, Max Reinert é um artista de teatro engajado em diferentes frentes do fazer teatral, pensando a dramaturgia não só enquanto palavra, mas também como composição cênica.
Camila Bauer