Marília Bomfim é integrante do Grupo de Teatro GPT, de Rio Branco, que tem 31 anos de existência. Atua como atriz, dramaturga e diretora teatral. É pedagoga, mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Acre e também se dedica à arte-educação. Possui dois livros publicados: A menina e o palhaço, escrito em 2014 junto com Dinho Gonçalves, e As confiadas, de 2020.
Movida pela necessidade de escrever os próprios textos, passando por algumas oficinas livres de escrita teatral, Marília Bomfim se apresenta como uma dramaturga em formação. Entende que a busca por conhecimento técnico sobre a escrita e uma visão sensível e ampliada sobre o ser humano, suas relações sociais e o mundo que o circunda, são atributos importantes para o trabalho dramatúrgico. Influenciada pela dramaturga paraibana Lourdes Ramalho, pelo paulista Plínio Marcos e pela paranaense Denise Stoklos, a artista busca uma escrita teatral que questione o mundo. “Dramaturgia é uma bandeira de luta diante do mundo em que vivemos! É uma forma de se comunicar com nosso irmão”.
Sua principal motivação criativa são as histórias que lhe perseguem. A artista lembra de fatos, imagina situações. Às vezes, as imagens que lhe ocorrem já chegam como cenas de teatro. Outras vezes, leva anos para conseguir transformar narrativas em linguagem dramática, como aconteceu com As confiadas. “Eu comecei a narrar essa história em eventos educacionais e artísticos. Cada vez que eu contava, eu tentava imaginar como os acontecimentos poderiam ser transformados em teatro. Demorei, mas consegui. Hoje, tenho meu primeiro teatro solo.”
As confiadas, apresentada em diversas escolas do Acre, foi escrita a partir de narrativas da infância da autora, de seus sonhos, medos e conflitos, permeados por injustiças e desigualdades sociais. A escrita da peça se baseou na técnica do Teatro Essencial, criado e difundido no Brasil por Denise Stoklos, na qual o ator, atriz ou performer tem completa autoralidade sobre a criação cênica, desde a escolha e desenvolvimento de um tema até o trabalho corporal e vocal, levando em conta sua memória e sua intuição.
Já a escrita de A menina e o palhaço nasceu a quatro mãos, em dupla com Dinho Gonçalves. O texto foi escrito para a finalização de um curso de especialização em Ensino, Arte e Cultura, em São Paulo. Marília inspirou-se nas suas narrativas de infância, enquanto seu parceiro, nas memórias de palhaço, tendo animado festas infantis por décadas. A peça resultou, então, no encontro de uma menina pobre com um palhaço profissional. De modo cômico, o texto tematiza a morte e a desigualdade social, enquanto valoriza aspectos do modo de vida dos acreanos, seus jeitos de falar, de se relacionar e de brincar. Expressões tipicamente acreanas, como “Marrapaz” e “Réi pôdi”, marcam a trama vivida nesse pedaço da Amazônia.
Além desses dois textos, Marília já escreveu uma série de peças didáticas que levam a população do Acre a discussões a respeito de problemas da vida contemporânea, como a depressão pós-parto, a compulsão alimentar, a gordofobia, e outras a respeito de questões ambientais, como é o caso de Cante para o mundo, peça que educa para o uso consciente da água.
Gorete Lima