Os atores devem estar terminando de arrumar o cenário, o passaredo canta ao redor ajudando, brincando em cena, apitos (sons de pássaros), lembrando o amanhecer.
JOÃO BAOBÁ: (Tocando violão/rabeca)
Sou das brenhas do sertão
das terras da água farta, ingazeiras e buritizais
das terras do babaçu, bacuri e açaizais
dos interiores do Brasil
trago na pele um cheiro de jatobá,
urucum, araçá, manga, pequi...
Nos cabelos o vento norte
nos pés o calor do miolo dos sertões esturricados
no peito, balaios de desejos
nos olhos um passaredo em constante arribação
e na minha mala pensamento
histórias de ontem
hoje e amanhã
histórias de minhas vidas.
São léguas de distâncias até aqui
São léguas de desejos até o desejo
E muito mais léguas entre o desejo e o desejado
São léguas, dessas léguas arretadas,
Dessas que a gente peleja e num mede.
Dessas léguas que só o tempo,
Senhor de tudo, sabe o tamanho.
Ê estrada de sonhos
Aê estrada de desafios
Ôôô estrada... estrada!!!
Ôôô pára! Ôôô chegou!
Ôôô! Ôôô! Aêêê...
Sim, aqui é o lugar
Esse é o lugar de parar
Lugar de desapeiar.
MÚSICA (Severo)
Despertando as correntes nativas
Dou louvores para o Deus Sol
Despertando as correntes nativas
Dou louvores para a Deusa Chuva
Quando o meu sol chegar, eu vou botar pra chuver
Eu boto é pra chuver, eu boto é pra chuver
Quando o meu sol chegar, eu vou botar pra chuver
Tá queimando, tá queimando
Tá queimando, pra queimar...
Tá chuvendo sol, tá chuvendo sol
Tá chuvendo sol lá no meu quintal
Quando o meu sol chegar, eu vou botar pra chuver
Eu boto é pra chuver, eu boto é pra chuver
Quando o meu sol chegar, eu vou botar pra chuver
JOAO BAOBÁ: E para que fique esclarecido
e eu possa continuar minha viagem no tempo
melhor a história começar
pois cada final é um começo que vamos iniciar
e se é pra começar do final
a propósito desse começo encerrado
vou embora pra outras terras
aonde o começo é o inicio
e o final é o fim afinal.
Então para os que vieram adeus
Aos que chegarão...
(tenta dá o primeiro passo e é puxado por uma força invisível. Tenta novamente, é
novamente puxado)
Mas será o Benedito?
Aonde já se viu? Querer ir e ser obrigado a ficar?
Não mandar nas próprias pernas é demais!
(tenta novamente... em vão. Olha pra dentro do embornal e transparece ter entendido.)
(Fragmento de O menino rio)