Francisco Alves Gomes é um homem movido pelo desejo. Ator, diretor teatral, performer, dramaturgo, professor e poeta, segue desejante, realizando essas atividades interligadas pela paixão cênica.
Professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), com doutorado em Literatura Brasileira, atualmente coordena o curso de Artes Visuais, no qual ministra disciplinas ligadas à História da Arte, Cultura Amazônica e Performance. Quem o conhece sabe da seriedade e paixão com que atua, seja como educador, seja no palco, seja escrevendo. A intensidade de seu modo de ser o conduz na poesia, nas pesquisas acadêmicas e, claro, na dramaturgia.
No campo da poesia publicou os seguintes livros: Poemas a meia carne (2008) e Ruídos noturnos e pequenas putarias literárias (2013). Em 2018 publicou seu primeiro livro de contos, intitulado Fotografias desmemoriadas de mim, de ti, de outrem, obra que venceu o prêmio Peixes de contos e crônicas, categoria do concurso nacional de literatura, promovido pela editora Kazuá. Também faz parte do grupo teatral Cia. do Pé Torto (www.ciadopetorto.com.br). Em 2011, dirigiu o espetáculo A galinha degolada, fruto do prêmio Funarte Miryan Muniz de teatro, na categoria montagem de espetáculo. Desenvolve ainda performances em parceria com alunos da graduação da UFRR.
No início de 2022, participou como organizador do livro Coletânea peças teatrais de Roraima, publicado na Coleção Teatro do Norte Brasileiro, do projeto Memórias da Dramaturgia Amazônida: construção de acervo dramatúrgico, coordenado pela professora Bene Martins (UFPA), que desde 2009 trabalha na catalogação, estudos e publicação de textos dramatúrgicos produzidos por autores amazônidas.
Assim, enquanto acadêmico, em meio às pesquisas que desenvolve sobre o texto dramático, dramaturgia, teatro brasileiro e suas inúmeras interpretações na ambiência social, encontra tempo para produzir e apresentar seu webprograma Pássaro Poesia, veiculado pelo Youtube, definido por ele como “amador e caseiro, que tem por objetivo exaltar e divulgar a Literatura de Roraima”.
Dentre seus textos dramatúrgicos destacam-se Na mesma praça hojesempre até o amor acabar e Colher de sal (2022), respectivamente a primeira e, até então, a última peça escritas pelo autor. A dramaturgia inaugural de Francisco Alves foi escrita quando o autor tinha apenas 20 anos de idade. Ao ler seu primeiro texto escrito para teatro, já percebemos sua capacidade inventiva, sua técnica e seu apuro cênico.
A peça composta em 16 cenas leva seus quatro personagens a viajar por um turbilhão de emoções, abarcando temas sensíveis a todo ser humano, a dramaturgia em linguagem poética apresenta diálogos repletos de divagações, angústias, interditos, ranços, revelações. Falas entrecortadas por contações de histórias, poemas recitados, confabulações ora ácidas, ora melódicas, ora filosóficas: “O universo instalou-se numa gota de lágrima, reluzindo brilho, reluzindo sal e água!”, exclama a personagem Amiel em um dos momentos do drama. Assim, dor, angústia, incômodo perturbam os personagens a se indagarem sobre suas existências, nas falas da primeira da peça, Na mesma praça hojesempre:
“Peter: Não tenho mais saudade da época em que juntos éramos fortes. Prefiro a morbidez destes dias cansados!
Eroni (Incrédulo): Está falando como se fôssemos quatro criaturas envelhecidas por um tempo, que, de certo, não tenho a mínima certeza ter vivido.
Peter: O quê? Então não concorda conosco? Com o que pensamos? Será que estamos desacreditados assim?”
Porém, nem tudo é sofrimento, há de se encontrar sonhos, esperança e poesia nos personagens que conversam. Na mesma praça hojesempre até o amor acabar, eles estão ali, jovens e inquietos a expressar as angústias que alumbram as almas nessa fase da vida. Logo, antes que o amor acabe, leiamos as linhas dramatúrgicas tecidas por Francisco Alves, e, descubramos, talvez, que a eminência do fim justifique para este autor a intensidade e paixão com que vive e desenha suas escritas. Ou seja, Francisco, homem das letras e das artes, faz jus ao ser desejante que é, nos presenteando com textos poeticamente instigantes, os quais certamente motivam seus alunos e público a se envolverem e a escreverem para o teatro!
Bene Martins e Mailson Soares