Cena 01 / “O Guardião os Sonhos”
(Mansamente, o Guardião dos Sonhos revela-se. Gloriosamente ganha o espaço. Enormemente faz um gesto forte e inventa o som de um trovão.)
Rhavi – Nossa quase me lembrei de um sonho que sonhei.
(Suspense. O Guardião dos Sonhos imita o latido de um cão.)
Guga – Nossa! Quase lembrei! Quase me lembrei de um sonho que sonhei!
(Mais suspense. O Guardião dos Sonhos agita um chocalho.)
Melissa – Nossa! Quase lembrei! Quase me lembrei de um sonho que sonhei!
(O Guardião dos Sonhos dança e brinca, espalhando sons e cores, perfumando o espaço.)
Melissa – Nossa, que música gostosa é essa?
Guga – Humm... Que cheiro bom! Que vontade de sonhar!
Rhavi – Olhem! Mais alguém veio brincar.
(O Guardião dos Sonhos brinca de esconde-esconde com os amigos.)
Guga – E você? Pra onde é que você vai?
Melissa – E você? Que sonhos você quer sonhar?
Rhavi – E você? Quer sonho de chuva? De terra ou de ar?
Guardião dos Sonhos – (solenemente.) Eu sou o Guardião dos Sonhos. Eu guardo todas as coisas de todos os sonhos sonhados. Todos os sonhos esquecidos e todos os sonhos lembrados. Sou um viajante que brinca em todos os lugares. Bem perto! Lá longe! E no meio do caminho. Chamem-me de mágico. Ou chamem-me de vento. Ou de notícia, ou de pensamento. E com os olhos risonhos chamem-me de Guardião dos Sonhos. (Remexe suas coisas.) E ainda agorinha eu passei lá no lugar dos sonhos sonhados e trouxe comigo
um montão de coisas. (Oferece a cada um, em tamanho pequenino, um objeto de sonho sonhado.) Para você, menino, um presente. Veja se é seu. (Entrega a nuvem para Rhavi.)
Rhavi – Hei! Acho que lembrei. Eu sonhei que estava com uma nuvem na minha mão. Era uma nuvem gorda. Cheia de chuva lá dentro.
Guardião dos Sonhos – E pra você, menino, um presente. Veja se você conhece isso. (Entrega a bicicletinha para Guga.)
Guga – Lembrei! Agora lembrei. Eu sonhei com uma bicicleta. Sonhei com a minha magrela, poderosa, veloz e aventureira.
Guardião dos Sonhos – E para você, menina, um presente. Veja se isso lhe pertence. (Entrega a cumbuca de barro para Melissa.)
Melissa – Gente, eu também lembrei! Claro que este presente é o meu. Outro dia, ou melhor, outra noite, eu sonhei com uma cumbuca de barro. E, nesse sonho, que eu sonhei, eu mexia um mingau com uma colherzona de madeira bem grandona assim!
Guardião dos Sonhos – (toca uma corneta.) Atenção, muita atenção! Todos os sonhadores de prontidão? É hora de viajar. É hora de inventar o lugar do sonho sonhado. Atenção todos os sonhadores: vamos abrir três rodas para os sonhos se contarem! Um, dois, três! Lembrar de um sonho é como abrir um presente. Lembrar de um sonho é sonhar de novo de um jeito diferente. (Os sonhadores transformam a grande roda em três espaços redondos.) Será que da nuvem caiu a chuva? Para onde nos levará aquela bicicleta? E que delícia é aquela que está dentro da cumbuca de barro amarela?
Canção de abrir a roda
Vamos abrir a roda
Roda moinho
Roda gigante
Cada viajante com seus sonhos
Enlaçados com mil barbantes
É agora
É pra já
A roda vai girar
Cada história em um lugar
(Está tudo arrumado para cada história começar. O Guardião dos Sonhos dança tranquilamente pelo palco.)
Guardião dos Sonhos – (organizando as ideias.) Aqui, bem perto, acontece uma história com cheiro de chuva. (Brinca com uma folha de zinco imitando trovoada.) E este menino se chama Rhavi.
Rhavi – Aqui é a minha casa, o lugar do meu sonho. A minha história tem cheiro de chuva e eu gosto muito de ver a água caindo do céu.
Guardião dos Sonhos – Ali, no meio do caminho, acontece uma história com gosto de sol. Ali é a rua onde pedala um menino que se chama Guga.
Guga – Aqui é a cidade onde eu moro. Eu gosto de sol bem quente. Será que o sol vai aparecer? E o que o sol vai me trazer?
Guardião dos Sonhos – (de longe, apontando para o espaço da história de Melissa.) E lá, bem longe, muito, muito longe, acontece uma história com jeito de férias. Lá numa aldeia, onde uma menina, que se chama Melissa, foi passear.
Melissa – Aqui é uma aldeia indígena. Um lugar cheio de flores cheirosas e mistérios misteriosos e barulhos verdes e vozes azuis e águas encantadas. Tem animais de olhos brilhantes e um povo lindo e forte. Quero conhecer pessoas aqui de tão longe.
Guardião dos Sonhos – Bem perto, no meio do caminho e lá longe! (Brinca com as distâncias.) Lá longe, no meio do caminho e bem perto! Será que os sonhos podem se encontrar? Será que você tem um sonho para lembrar? Sonho, vem rodar!
(Os amigos cantam.)
Um sonho é como uma
roda que se desenrola
O sonho é uma roda que nasce
E se desenrola numa espiral
Quando um sonho aparece
O mundo fica muito legal
Agora é hora
Dessa roda girar
Para cada história começar
Pois cada sonhador
Tem o seu lugar
Rhavi – (terminou de arrumar a casa.) Fico aqui, bem perto, para esperar a chuva. Na minha história tem muita trovoada. Tem relâmpago que risca o céu e traz mensagens para eu decifrar. Será que o meu sonho pode encontrar o seu?
Melissa – (na aldeia.) Aqui é bem longe. Um lugar que tem mato, riacho e pedrinhas azuis. Tem comida temperada com flores. Tem Lua Madrinha e muita cantoria. Vou descobrir, aqui bem longe, um jeito novo de sonhar. E depois eu volto para a Roda dos Sonhos para te contar.
Guga – (na cidade.) Eu já digo para onde vou. Mas primeiro digo como vim. Vim pedalando. Minha magrela veloz e possante. Sou um menino que gosta de aventuras. Pedalo todo dia. Agora já estou no meio do caminho, o lugar onde acontece a história do meu sonho.
Guardião dos Sonhos – A Roda dos Sonhos se desdobrou. Cada um está em seu lugar. Boa Sorte. Até breve. Se precisarem de mim é só chamar.
(Daqui para frente, as três histórias brincam de se intercalar. O Guardião dos Sonhos circula honrando seu papel na contrarregragem e manipulações. Os amigos vão entendendo o jogo.)
(Fragmento de Na roda dos sonhos)