Daniela Beny, atriz, dramaturga, pesquisadora, iluminadora e professora, é um dos nomes da nova dramaturgia alagoana ao lado de Bruno Alves, Pierre Pelegrine, Abides Oliveira Júnior, Bethe Miranda e Kadu Oliveira. Dedicada ao ato de escrever desde muito jovem, escrevendo poesias e crônicas, iniciou sua escrita dramática ao mesmo tempo em que entrou para as artes cênicas como atriz de um grupo feminino de teatro e circo, em Maceió, no ano de 2003.
Nesse coletivo, Daniela Beny permaneceu por cinco anos (2003-2008), assinando quatro textos da companhia – dois escritos em colaboração e dois de sua autoria. A dramaturga era atriz do grupo, mas diante da diminuição da produção dramatúrgica na cidade, e tentando driblar a questão dos direitos autorais, assumiu a função de escrever. Além do mais, o grupo dispunha de um elenco muito pequeno e, ao lidar com muitos textos, necessitava adaptar o texto à sua realidade.
Em seu primeiro texto, Diálogo de quem não tem muito a falar (2005), desenvolveu uma história estruturada nas réplicas de dois amantes que resolvem findar sua relação. O espaço é único, a cena é curta e não há nenhum tipo de indicação prévia a respeito dos personagens. Nós os conhecemos apenas à medida em que falam um com o outro, tentando entender o que os levou ao fim e quem são agora. Na ocasião de sua montagem, o texto recebeu três versões e três finais alternativos.
Ainda no grupo, Daniela Beny assinou o texto A mãe da debutante (2007), peça que discutia a sexualidade feminina dentro de uma sociedade nos anos 1950. Na peça, a mãe se reencontra com suas frustrações e culpas relacionadas à própria sexualidade em sua juventude ao preparar a filha para a festa de debutante, evidenciando o ciclo infinito de transmissão da culpa feminina dentro de uma estrutura misógina. Esses dois textos podem ser encontrados no livro Textos (tristes) de Teatro (2021, Viva Editora), no qual Daniela Beny publica cinco de suas dramaturgias.
Em 2009, estreia Voo ao solo como atriz e dramaturga. O monólogo nasce dos diários escritos por Daniela Beny no período em que viveu em São Paulo. Uma espécie de crônicas diárias a partir de sua experiência na cidade, mas também uma revisitação de suas memórias provocadas pelo deslocamento. Apesar de dividido em episódios, a sugestão do texto é a de que exceto a primeira e última cenas sejam fixas, e que a ordem das outras seja selecionada pela plateia, tentando deixar claro a inexistência de uma linha dramática que conecte os episódios e o embaralhamento do ato de lembrar.
Na academia, Daniela Beny tem focado na pesquisa de atriz, obtendo em 2017 o mestrado em Artes Cênicas na Universidade Federal de Rio Grande do Norte (UFRN), com a dissertação intitulada Os elementos de Iansã como possibilidade para criação cênica, e no momento está cursando doutorado sanduíche pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) na Universidade de Coimbra, Portugal, com o projeto Ogumiê? Os elementos arquetípicos de Ogum como caminhos para preparação de atores e atrizes. Entretanto, como um trabalho sempre esteve conectado com o outro na trajetória da artista, sua pesquisa tem encontrado forma também em uma dramaturgia ainda em processo, que tenta dar conta das narrativas dos orixás, do universo simbólico do candomblé e da umbanda, das reflexões da artista acerca de sua posição social como uma mulher negra e de sua relação com as mulheres mais velhas de sua comunidade.
Laís Machado